Ano novo, hábitos velhos (e maus)
Não poderia ficar indiferente ao que se passou este fim de semana. E se escrever é (para mim) uma forma de pensar, organizar ideias e refletir pois que também é oportuno que pense sobre uma desgraça destas. Não será possível colocar-me na posição de quem viveu aquele inferno ou perder alguém/algo com ele. A sensação de impotência, medo, tristeza profunda deve estar lado a lado com a de raiva e perplexidade perante uma Natureza que tanto nos dá de belo como nos tira o que demais importante temos assim, sem dó nem piedade. É desolador ver os rostos do sofrimento. É angustiante pensar nas famílias que perderam pessoas. É impossível não pensar por um segundo que seja: E se fosse eu ali? É terrível e é um pensamento que já desviei vezes sem conta face ao sentimento que se apodera de mim! Desde que isto aconteceu que agradeço mais e mais vezes a minha vida e a dos meus. Viver, ter saúde e ter família é demasiado bom! No meio de tanta desgraça, esta é a melhor parte. Estar vivo! Pena é que todos os anos tenhamos que assistir a isto! Vivemos num país absolutamente maravilhoso em diversas perspetivas mas damos cabo dele por não estabelecermos as prioridades certas. Não existe legislação que tutele estas matérias, não existem acessos às florestas e não há ninguém que as vigie de forma a evitar ou minimizar os incêndios. Não existe financiamento mas têm de existir recursos para se fazer face às tragédias. Quantas pessoas mais terão de morrer para se dar um murro na mesa? Quantas mais pessoas ficaram sem casa ou outros bens para que os poderosos continuem a ganhar dinheiro com a desgraça de outros? Que país é este que permite a destruição de uma das suas maiores riquezas? Não entendo tanta apatia dos políticos, tão pouca vontade de resolver os problemas, tanta indiferença perante as perdas a que assitimos todos os anos! Este incêndio até pode ter sido provocado por trovoadas secas mas tantos outros tiveram origem criminosa e atingiram proporções gigantescas por falta de cuidado com as nossas matas. Tanta gente no desemprego e não há ninguém que se lembre de contratar estas pessoas para fazer limpeza? Tantos militares que temos em funções mas só são recrutados para situações de catástrofe? Revolta-me profundamente a passividade com que se gere este assunto até porque o medo de isto acontecer está sempre presente, ainda mais vendo estas notícias. Vivo numa zona intensamente arborizada e, por mais que se solicite aos donos que façam a limpeza das suas propriedades, estes assobiam para o lado e fingem não ser nada com eles. Vivem no mais puro egocentrismo como se as suas matas estivessem livres de qualquer incêndio! Só gostaria de abrir a cabeça destas pessoas e colocar-lhes ideias do bem lá para dentro! Pode custar pagar a limpeza destes terrenos mas (acho que) custará bem mais assistir à desgraça dos outros! Às vezes, era bom viver numa mundo de fantasia e ter lâmpada do Aladino para pedir que estas merdas acabassem de vez mas, infelizmente, tem que se contar com a capacidade dos Homens para resolver isto. E o problema é que quase sempre, resolve-se mal!